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Em defesa do Gosto

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 24 de março de 2014 · 2 mins read
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Este era já um título que há algum tempo tinha na minha lista de ideias para escrever, um título simples. Não irei dissecar a palavra, esvaziar de significado ou trazer-lhe inverdade, apenas o Gosto.

No dia 20 de Março comemorou-se o dia da Felicidade, um dia com um significado internacional. Porém, um significado que em larga escala pouco ou nada tem estado no Eu de cada um, mas sim, num grande amontoado de misturado de ideias e conceitos. O Gosto e o Amar relacionam-se com a Felicidade. Tocam-se como dois dançarinos em perfeita harmonia conjunta. São conceitos que interagem comumente, sendo nós, muitas vezes os responsáveis por cortar este elo natural que os liga.

Fala-se, teoriza-se, propõe-se, esquematiza-se constantemente os processos do Amor e do Gostar. Planeia-se como se estes fossem atemporais, como se a sua existência fosse regida por um ser imutável no tempo, no espaço, como se estes significassem Deus, ainda que Deus para muitos não tenha significado. Transporta-se o sentimento para o conceito e deixa-se o sentimento para quem o deveria sentir, no entanto, todos acham que o devem transportar. Falta o sentimento, excede-se no conceito. No fim, pergunta-se o que de facto se Ama ou se Gosta, sem resposta. Uma parede branca enfrenta o nosso presente, como se a cal significasse o futuro e o tijolo cru o passado. Dá-se um passo em frente à espera que a cor apareça, mas a única que existe é a da nossa própria pele, do nosso sangue, da nossa entidade enquanto presença. Esperamos, mas a menos que sejamos nós a bombear as nossas artérias, a menos que seja nosso coração a fazer escoar todo o não sentimento que temos, a nossa pele ficará branca para sempre. Pois, no fim, somos nós que damos cor ao nosso universo, senão branco ou preto, apenas isto será. Branco ou Preto. O outro intercede sobre a nossa cor, imortaliza os nossos órgãos que dão continuidade a todo um espectro sentimental, porém, a célula é nossa, o oxigénio é processado nos nossos pulmões. É na nossa mente que a realidade se compõe.

Triste, por vezes é mais fácil de sentir do que contente. Desapontamento, muitas vezes mais fácil de gerir que a realização. Infelicidade mais fácil de aceitar do que a felicidade pura. Um bem que não é imutável, um bem contínuo e como tal, no contínuo deve ser conseguido. O bem do Gostar, o bem do Amar. Pois no fim, significamos tudo, ou nada somos. No fim, ou o sorriso, ou apenas o vazio de um Universo previsível e sem significado.

Daniel Bento

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma