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Como nem tudo é bom...

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 13 de novembro de 2014 · 4 mins read
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“Argumenta-se por vezes que a protecção dos Direitos do Homem que assistem a lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgénero (pessoas LGBT) equivale à introdução de novos direitos. Esta é uma interpretação incorrecta da questão. A Declaração Universal dos Direitos do Homem e os tratados celebrados estabelecem que os direitos humanos se aplicam a todas as pessoas sem excepção.” - Thomas Hammarberg, Comissário para os Direitos do Homem da Europa

Os dias vão passando e, como é óbvio, há dificuldades que vão aparecendo na medida em que procuramos responder a determinados problemas, independentemente da sua complexidade. Como ando bem disposta, decidi dar mais alguns passos e ir trabalhando algumas questões do dia a dia. Neste momento posso dizer que já encontrei 3 tipos diferentes de predisposições à minha temática. A primeira, a melhor, no local onde trabalho, onde fui bem acolhida e onde, claramente, houve um esforço que merece reconhecimento da minha parte. Em segundo, na escola, a política de passar a responsabilidade ao próximo, isto é, tens a tua questão, como bom português sabe fazer “desenrasca-te”. Por último, hoje, uma questão sensível. Clubes desportivos.

Como é sabido, entre todos os meios, existe uma razão para este ser um dos mais complicados. A questão dos balneários. Motivo que, gosto de frizar, entendo completamente. Porém, o que não entendo é: o seu problema aqui não tem solução, o melhor é desistir e ir embora. Pensar 5 minutos numa solução (ainda que má) seria o mínimo, no entanto a resposta foi simples e direta.

Alguns pontos a frizar. Peço para falar com alguém com quem já tinha combinado, sou levado ao seu encontro e antes de poder falar com a pessoa em questão oiço muitos risos histéricos e comentários. Segundo, vem uma pessoa falar comigo só para me dizer que não tem uma solução. Vem uma terceira pessoa claramente promover a minha desistência… de uma forma simpática, claro. Não sendo uma “mulher completa”, não tenho lugar. Não sendo um “homem completo”, não tenho lugar. Porém sou uma pessoa. Para acrescentar ainda oiço “se vier cá ainda, trate de não vir assim, mas como um homem porque você é um homem”. Sou uma pessoa calma, com um sorriso apenas respondi “só quero esclarecer a situação em que cá estou, preciso de saber se continuo a pagar (como toda a gente) a minha mensalidade (o preço de toda a gente) para frequentar o espaço, dado que não tenho acesso ao ginásio completo…”.

A minha questão não se prende exactamente pelo uso dos balneários masculinos ou femininos. Independentemente do que sinto interiormente, não é algo que seja bloqueante para o meu dia a dia. Porém, é com enorme desgosto que chego a um sítio, sou alvo de risota enquanto cliente (sim, tenho consciência que isto vai acontecer) e nem tenho direito a uma ponderação. A desistência é a única solução, para o bem de todos. Pois, até o facto de estar maquilhada é incomodativo para os outros clientes, principalmente os homens… Isto expõe outra questão. Se a minha expressividade fosse simplesmente esta, não houvesse outra questão subentendida, o tratamento era o mesmo? Pelo que uso, pelo aspecto? E esta até é uma questão mais simples…

Segundo o Ponto 24 num estudo da Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais Homofobia e Discriminação em razão da Orientação Sexual e da Identidade de Género nos Estados-Membros:

Garantir a igualdade de tratamento e a participação em actividades desportivas

As organizações ou instituições desportivas devem tomar as medidas necessárias para garantir que os atletas ou técnicos LGBT se sintam seguros para assumir a sua identidade sexual, se assim o entenderem, sem temerem consequências negativas.

Não deixo de estar bem, não deixo de continuar o meu caminho, dado que esta é apenas uma de muitas coisas que vêm pelo futuro. Sei onde poderei ir, sei onde poderei estar onde seja aceite. No entanto não deixo de lamentar estas posições francamente no limiar do hipócrito em pleno século XXI.

De um modo que ficou bem claro, um cliente nunca vale os outros.

De um modo bem claro, com fracas mentes… a sociedade não cresce.

Actualização: Apenas queria deixar o registo e, como nota, denunciar este tipo de comportamento. O ginásio em questão é o FitnessHut - Picoas. Irei contactar o Grupo e pedir esclarecimentos sobre esta situação em particular.

Link para o relatório

Dani Bento

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma